“Não houve Adão e Eva históricos, nem serpente, nem maçã, nem queda que  derrubou o homem de um estado de inocência”, diz John Schneider 
Pesquisas do Instituto Gallup e do Pew Research Center afirmam que  quatro em cada 10 americanos acreditam na existência literal de Adão e  Eva. Esta é uma das crenças centrais de grande parte do cristianismo  conservador, e dos evangélicos em particular.
No entanto, recentemente alguns estudiosos conservadores passaram a  afirmar em público que já não conseguem acreditar no relato de Gênesis  como antes. Perguntado sobre o fato de sermos todos descendentes de Adão  e Eva, Dennis Venema, biólogo cristão da Trinity Western University,  respondeu: “Isso vai contra todas as evidências genômicas que reunimos  ao longo dos últimos 20 anos, então não é algo provável”.
A pesquisa do Genoma Humano
Venema diz que não há maneira de rastrear a humanidade até um único  casal. Ele diz que com o mapeamento do genoma humano, está claro que os  humanos modernos surgiram a partir de outros primatas – muito antes do  período literal de Gênesis, que seria apenas alguns milhares de anos  atrás. Dada a variação genética da população atual, ele diz que os  cientistas não conseguem conceber uma população abaixo de 10.000  pessoas, em qualquer momento em nossa história evolutiva.
Para reduzir tudo a apenas dois antepassados, Venema explica: “Você  teria que postular que houve uma taxa de mutação absolutamente  astronômica que produziu todas estas novas variantes, em um período de  tempo incrivelmente curto. Esses tipos de taxas de mutação não são  possíveis”.
Venema é membro da BioLogos Foundation, um grupo cristão que tenta  reconciliar fé e ciência. Esse grupo foi fundado por Francis Collins, um  evangélico que atualmente lidera o Instituto Nacional de Saúde.
Venema faz parte de um grupo crescente de estudiosos cristãos que  dizem desejar ver sua fé entrar no século 21. Outro é John Schneider,  que até recentemente ensinou teologia no Calvin College, em Michigan.  Ele diz que é hora de encarar os fatos: “Não houve Adão e Eva  históricos, nem serpente, nem maçã, nem queda que derrubou o homem de um  estado de inocência”.
“A evolução torna bastante claro que na natureza e na experiência  moral dos humanos, nunca houve qualquer paraíso perdido”, diz Schneider.  ”Acho que os cristãos têm um desafio, um trabalho grande em suas mãos  para reformular algumas das suas tradições em relação os primórdios da  humanidade.”
Dennis Venema indica o caminho que reconciliaria as posições: “Se ler  a Bíblia como poesia e alegoria, assim como tem partes históricas, você  poderá ver a mão de Deus agindo na natureza – e na evolução. Não há  nada a temer fazendo isso. Não há com o que se preocupar É realmente uma  boa oportunidade para termos uma compreensão cada vez mais precisa do  mundo. A partir de nossa perspectiva cristã, esse é um entendimento cada  vez mais preciso de como Deus nos trouxe à existência”.
Este debate sobre um Adão e Eva históricos não é apenas mais uma  disputa, pois parece estar dividindo a intelectualidade evangélica  norte-americana.
“O evangelicalismo tem uma tendência a matar seus jovens talentos”,  diz Daniel Harlow, professor de religião no Calvin College, uma escola  cristã reformada que tem a queda literal de Adão e Eva como parte  central de sua fé.
O Calvin College não aceitou ele ter escrito um artigo questionando o  Adão histórico. Seu colega, o teólogo John Schneider, escreveu um  artigo semelhante e foi pressionado a demitir-se após 25 anos  trabalhando na faculdade. Schneider está vivendo agora de uma bolsa de  pesquisa da Universidade Católica Notre Dame.
Vários outros teólogos bem conhecidos de universidades cristãs têm  sido forçados a se demitir por causa desse debate. Alguns veem um  paralelo com um momento histórico anterior, quando a ciência entrou em  conflito com a doutrina religiosa.
“A controvérsia da evolução hoje é um momento tão crucial quando o  julgamento de Galileu”, diz Karl Giberson, autor de vários livros que  tentam conciliar cristianismo e evolução, incluindo A Linguagem da C  iência e da Fé, escrito em parceria com Francis Collins.
Giberson – que ensinava física no Eastern Nazarene College, entende  que esse ponto de vista tornou-se muito desconfortável na academia  cristã – e o questionamento de Adão e Eva é semelhantes ao que  experimentou Galileu no século 17, quando desafiou a doutrina católica  que afirmava que a Terra girava em torno do sol e não o contrário.  Galileu foi condenado pela igreja e levou mais de três séculos para o  Vaticano para expressar arrependimento por seu erro.
“Quando você ignora a ciência, acaba pagando caro”, diz Giberson. ”A  Igreja Católica pagou um alto preço durante séculos por causa de  Galileu. Os protestantes fariam muito bem se olhassem para esse fato e  aprendessem com ele.”
Outros teólogos dizem que os cristãos não podem mais se dar ao luxo  de ignorar as evidências do genoma humano e dos fósseis apenas para  manter uma visão literal de Gênesis. ”Este assunto é inevitável”, diz  Dan Harlow do Calvin College. ”Os evangélicos precisarão enfrentá-lo ou  apenas enfiar a cabeça na areia. Se fizerem isso, perderão qualquer  respeitabilidade intelectual que possuem.”
Albert Mohler, do tradicional Seminário Batista do Sul, explica: “No  momento em que você diz ‘temos que abandonar nossa teologia para ter o  respeito do mundo’, acaba ficando sem a ortodoxia bíblica e sem o  respeito do mundo”.
Mohler e outros dizem que, se outros protestantes querem acomodar-se à  ciência, não devem se surpreender se isso os fizer negar a fé.
Fonte: Pavablog

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